A vida, aquela que é, privada
Nem tudo é comum. Nem tudo é para ser partilhado. Nem tudo tem de ser partilhado. Há um espaço e um mundo que nos pertence só a nós. Apenas a nós mesmos. E é assim que tem de ser. É assim que deve de ser. Isto não significa que não gostemos dos outros, que não os respeitemos, que não lhes dediquemos a nossa atenção e tempo. Significa apenas que existe ali uma fronteira, um limite. Que ninguém tem nada a ver com isso. Seja lá porque motivo for. Com razão, sem razão ou com mais ou menos razão. Dali ninguém passa porque eu não quero e porque a vida é minha e é privada.
Ponto.
Traço _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Haverá quem lide mal com isso. Sobretudo se formos pessoas que não costumamos impôr muitos limites nos outros. Haverá quem se apresente várias vezes, sob várias formas para se intrometer em seara alheia. Invocam-se sentimentos nobres e emoções fortes para tentar tirar mais uma colheradazinha do assunto privado. É um jogo de tração à corda. Puxa daqui, puxa dali, aguenta, puxa mais um pouco. Criancices. Coisas de crianças.
No complain, no explain.
E assim a léguas conseguimos distinguir claramente quem é nosso amigo e nos respeita, de quem apenas quer cuscar e se entreter com a nossa vida. Sem acrescentar nada ou efetivamente ajudar.
Os segundos, mais tarde ou mais cedo, uma vez que lhes falta alimento, acabam por sucumbir na auto-piedade ou no auto-vitimismo: eu só queria ajudar. Eu só estava preocupado. Eu convidei-a e ela disse que sim , depois disse que não. Ela é que se afastou. Ela é que deixou de responder às mensagens. Ela é que não participa no grupo do whatsup. Ela é que nunca mais apareceu para dizer olá. Não estou para levar com uma má resposta...
Já os primeiros dão espaço, dão tempo. Aceitam a fase. E quando sentem saudades: telefonam, aparecem, enviam um mail. Sem constrangimentos, nem cobranças. Sem remexer no fundo do rio para que a terra não suba e torne a água turva. Vivendo a amizade naturalmente, como sempre.
Ninguém é obrigado a aceitar as fases de um outro alguém, mas também ninguém é obrigado a expôr a sua vida privada e intíma só para que seja aceite por um outro alguém, sob o pretexto da amizade ou do amor. É como em tudo uma questão de escolha.
O que quero para mim?
Quem eu quero que esteja ao meu lado?