A Arte de Julgar
Já diz o ditado: "quem nunca errou, que atire a primeira pedra!". Eu diria mais: quem nunca julgou que atire a primeira pedra! Todos nós nos julgámos ou julgámos alguém durante o nosso percurso de vida. Todos nós temos opiniões sobre o que seria melhor e mais consciente em relação à situação dos outros. Todos nós, em algum grau e em algum momento, temos (ou tivemos) uma veia de consultores da vida alheia. Todos nós!
Não é então de ficarmos surpreendidos ou amuados se também os outros opinarem sobre nós e nos julgarem. É o reverso da medalha. Na grande maioria das vezes esse julgamento, apesar de racionalmente válido, bate na trave no que toca ao que se passa nesta imensa vastidão interna de consciência e inconsciência a vários níveis. Os processos humanos nunca são plenamente lineares. A vivência da experiência humana é isso mesmo: uma experiência na qual testamos uma ou várias partes de nós mesmos perante uma nova situação ou situações repetidas. É uma aprendizagem constante e contínua!
Não há certo, não há errado. Há consequências. Há consequências para as quais não estamos preparados ou não são previsíveis...
Não temos de partilhar as nossas aprendizagens, a menos que queiramos e nos faça sentido. As minhas lições de vida são algo íntimo. Não há lei, não há regra, somos nós que determinamos o que expomos e quando nos expomos perante aos outros. Quem quiser aceitar-nos, aceite. Quem não quiser aceitar-nos, não nos aceite. Quem quiser ajudar-nos, ajude-nos. Quem não quiser nos ajudar, não nos ajude e sacuda a água do capote.
Quem quer mesmo ter de aturar problemas que não são resultado das suas próprias experiências de vida?!
Apontamos o dedo, criticamos, damos sugestões de estratégias para a resolução dos fatos, mas, contas feitas, quem fica e ficará sempre com o "menino nos braços" é a própria pessoa. É a chamada responsabilidade da própria vida!
Posto isto e assim sendo: porque terei eu de estar constantemente a falar dos meus processos, das minhas escolhas, das minhas decisões, das minhas batalhas se não sinto vontade ou necessidade de o fazer? Há caminhos que exigem silêncio, há caminhos que pedem recato, há caminhos que nos suscitam dúvidas que queremos ser nós a esclarecer, há caminhos que de tão internos nem temos palavras para falar sobre eles...os caminhos humanos são sempre muito individuais e intransmissíveis. Sempre.
Às vezes só precisamos que nos oiçam quando reclamamos porque nos picámos nos espinhos da rosa. Só precisamos de saber que mesmo sendo nós a ter de atravessar aquele deserto sozinhos, há alguém. Só precisamos de ouvir uma voz, sentir uma presença humana, ouvir o bater de um outro coração vivo.
Às vezes só precisamos de um copo de água para continuarmos a caminhar, sem precisarmos explicar porque estamos a caminhar, porque decidimos caminhar e não correr, porque não fomos de carro, porque estamos no deserto, como fomos parar ao deserto, como vamos sair do deserto, como vamos sobreviver perante o calor do deserto...
... E também há vezes onde precisamos voltar ao deserto várias vezes... E isso só a nós nos diz respeito!